sábado, 12 de dezembro de 2015

FIM DO ENCANTAMENTO

Muitos se decepcionam com o amor por esperar dele emoções intensas e permanentes: a frustração é fruto de não se saber bem o que é o amor.

Amor é o sentimento que temos por quem nos traz paz e harmonia. Só implica emoções fortes na fase inicial, quando o encantamento se instala.
Quando o encantamento amoroso se instala, produz forte impacto e gera emoções intensas. O encantamento pode persistir quando a paz retorna.


A primeira fase é a da paixão: encantamento bilateral intenso associado a forte medo derivado das dúvidas e inseguranças, próprias dessa fase.

O fim da paixão não é o fim do encantamento amoroso; corresponde ao fim da fase de maior medo e insegurança. A serenidade que surge é ótima!
O amor tem emoções delicadas e sutis: saudade, dor discreta derivada da ausência do amado; e também emoção e prazer no momento do reencontro.

Flávio Gikovate


TÔ PRECISANDO ...

Interminável dezembro (Ruth Manus)

Estou, oficialmente, pedindo arrego.
Tô precisando ver no relógio o fim do expediente.
E ficar alheio, indisponível, ausente.
Tô precisando do barulho do zíper fechando a mala.
E de sala de embarque, conexão, escala.
Tô precisando do peso da pálpebra fechando o olho.
E ficar de boa, de cama, de molho.
Tô precisando de cheiro de filtro solar.
E ir pro sol, pro frio, pro bar.
Tô precisando do som das tardes vazias.
E olhar pro céu, pras noites, pros dias.
Tô precisando ouvir música ruim.
E de brigadeiro, tapioca, quindim.
Tô precisando baixar a frequência.
E me permitir deslizes, indisciplinas, imprudências.
Tô precisando abraçar gente amada.
E de exagero no churrasco, na cerveja, na feijoada.
Tô precisando de outros cenários.
E mudar de roupa, de eixo, de itinerário.
Tô precisando de alguma calma.
E lavar o carro, o rosto, a alma.
Tô precisando (logo) do fim do mês.
E me desligar de tudo, de novo, de vez.
Tô precisando da noite de 24.
E encher a taça, o saco do primo, o centro do prato.
Tô precisando da noite de 31.
E atentar para meu melhor compromisso: nenhum.

SEPARAÇÃO

Separação e afastamento

Por Bertold Ulsamer


O amor muitas vezes corre mal, as relações terminam. Parceiros partem, novos parceiros se juntam. Como podemos lidar com isto de uma forma resoluta?
Normalmente o fim chega sem que ninguém tenha de se sentir culpado. A relação terminou porque cada pessoa está emaranhada no seu próprio enredo, ou porque alguém toma um rumo diferente ou está a ser conduzido para um caminho diferente. Contudo, assim que começo a sentir culpa, tenho a crença e a ilusão de que eu ou a outra pessoa poderíamos fazer alguma coisa; que o outro ou eu próprio só teríamos de nos comportar de uma forma diferente e com isso tudo poderia ser salvo. Nessa altura, a grandeza e a profundidade da situação é mal interpretada e a culpa e as acusações de um contra o outro vão ser investidas. A solução está em que ambos se submetam à sua tristeza, à sua dor profunda, à tristeza e pesar pelo facto de a relação ter chegado ao fim…
Quando uma separação ocorre, a raiva frequentemente serve de substituto para a dor e tristeza.

Os parceiros anteriores continuam a fazer parte do sistema. Nas colocações dos sistemas actuais, estes parceiros continuam a ser colocados. Por vezes existem tensões que ainda não foram resolvidas. Nesse caso, é importante que as coisas que ficaram por dizer sejam expressadas, por exemplo: “tenho pena” (“sinto muito”).


Quando os ex-companheiros recebem “um bom lugar”, eles podem tornar-se apoiantes e serem uma fonte de poder. “Um bom lugar” significa que eles estão a ser honrados e respeitados como ex-companheiros e predecessores. A melhor prova
disso são as relações de amizade que continuam a existir após a separação ou que começam a desenvolver-se de novo.

A supressão terá um impacto negativo no presente e no futuro da própria família. Se o ex-parceiro não é considerado como sendo parte do sistema, se a sua existência estiver, por exemplo, a ser negada, isso tem um efeito particularmente mau quando nascem crianças. A criança poderá representar o ex-parceiro. A família estará em desordem.

Traduzido do inglês por Eva Jacinto
Ilustração: Aurelia Fronty